Entrevista com a Dra. Marilene Melo
Respeitar a diferença entre os sexos: importante para o diagnóstico e tratamento
Quando tratamos de hábitos do consumidor, não é novidade que existem diversas diferenças entre os comportamentos dos homens e das mulheres. Inclusive uma tendência importante e muito bem explorada por algumas empresas refere-se a mulherização, um termo explorado no livro “Reinventando Você” do autor Carlos Alberto Julio, no qual faz uma abordagem da mulher enquanto consumidora e detentora de uma renda cada vez mais crescente e um significativo poder de compra e que definitivamente temos que entender que a mulher possui um comportamento de compra diferente do homem.
Na área da saúde não é diferente, atualmente boas discussões tem sido provocadas no sentido de agregar valor e eficiência nos diagnósticos e tratamentos através do conhecimento das diferenças entre os gêneros masculino e feminino.
Para tratar desse assunto, convidamos a médica Marilene Melo, presidente da ABMM – Associação Brasileira de Mulheres Médicas:
1) Quais os principais benefícios para o paciente em considerar as diferenças entre os gêneros durante o diagnóstico e o tratamento?
São inúmeros benefícios se considerarmos as diferenças entre pacientes masculinos e femininos. Na Cardiologia, por exemplo a conduta clínica e a solicitação de exames demonstra essa particularidade. O Infarto do miocárdio mata mais mulheres que o câncer de mama e pouco se ouve falar de mulheres que fizeram ponte de safena ou cateterismo. Uma informação importante é que somente a partir de 2005, na Quarta Plataforma Mundial sobre a Mulher, realizada em Pequim, a ONU (Organização das Nações Unidas) determinou que em todas as atividades humanas quer sociais, culturais, econômicas e de saúde devam ser considerados os gêneros. Na medicina , por exemplo, todos os trabalhos científicos até então, eram feitos em pacientes homens e os resultados aplicados em homens e mulheres.
2) Existe alguma especialidade médica que melhor se beneficiaria desses novos conhecimentos? Poderia citar alguns exemplos corriqueiros que favoreçam essas descobertas?
Em muitas especialidades e patologias há diferenças entre homens e mulheres tanto no diagnóstico como no tratamento e na evolução. Como exemplo, podemos citar: cardiologia, endocrinologia, oncologia, ortopedia, entre outras. Desde 2007 as pesquisas médicas são efetuadas separadamente em homens e mulheres com o objetivo de fornecer o tratamento mais adequado aos pacientes de acordo com o gênero.
3) Sobre o “Manual de Formação para Perspectiva de Gênero na Saúde”, quais suas principais contribuições? Como podemos acessá-lo?
Este Manual visa treinamento de médicos e divulgação para a sociedade e tem como objetivo instrui-los sobre como a diferença entre gêneros afeta a saúde e seus cuidados, além de informar como os estereótipos de gênero influenciam o reconhecimento e gestão das questões sobre a saúde da mulher, além de questionar sobre o ensino e pesquisas que tem dado conhecimento para assuntos relacionados com diferenças entre cuidar de homens e mulheres quanto a prevenção, patogenia, diagnóstico, tratamento e prognóstico, entre outras informações relevantes.
O acesso ao Manual na íntegra é feito clicando aqui
4) Há quanto tempo esse tema vem sendo discutido no Brasil?
O tema ganhou força a partir de 2012 com a tradução do Manual de Formação para Perspectiva de Gênero na Saúde. Notamos que a cada ano mais profissionais da saúde pública e privada demonstram interesse em estudar e aplicar a diferença entre gêneros em consultórios, clínicas e hospitais. Importante ressaltar que a conscientização da classe médica, comunidade e da classe política é de extrema importância para a disseminação da informação para todos os serviços de saúde do país.
5) A Sra. citaria alguma referência bibliográfica ou eventos específicos desse tema?
Sim, são diversos eventos e artigos sobre o tema, dos quais acho importante destacar:
Artigo:
Revista da Associação Paulista de Medicina do mês de Setembro de 2014, publicou uma reportagem muito interessante sobre o assunto: www.abmmnacional.com/pdf/revista_apm_set2014.pdf
Evento:
De 21 à 23 de Abril, haverá um Meeting da OSSD(Organization for the Study of Sex Differences), em Stanford University, Palo Alto, USA, onde irei, juntamente com a Dra Anna Maria Martits e Dra Elizabeth Regina Giunco Alexandre, para trazer as novidades e apresentar para os médicos e leigos na APM, em uma conferência ECOS do Meeting de Stanford.
Comentários finais You Care: Segundo a definição do Manual de Formação para Perspectiva de Gênero na Saúde, “gênero pode ser visto como toda a gama de traços de personalidade, atitudes, sentimentos, valores, comportamentos e atividades que a sociedade atribui aos dois sexos em uma base diferencial. É uma construção social, que varia de sociedade para sociedade e ao longo do tempo.”
Com esse entendimento, a You Care busca, com essa esclarecedora entrevista da Dra. Marilene Melo, divulgar e disseminar o conceito da diferença entre gêneros e sua importância nas diversas atividades da medicina. Como estudos segmentados entre homens e mulheres podem resultar em análises corretas e melhores terapias. Com isso, o paciente terá sua condição de saúde melhorada e os cuidados com prevenção e tratamento serão mais eficientes e duradouros.
Dra. Marilene Melo é formada em medicina pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP) e especialista em Patologia Clínica, pela Sociedade de Patologia Clínica. Ao longo de sua carreira presidiu e participou da diretoria de diversas entidades médicas, entre as quais destacam-se AMB, APM, SBPC. Foi eleita titular da Academia de Medicina de São Paulo em 2008. Recebeu o prêmio de mérito como Past President Associação Mundial WASPALM em 2009. Eleita presidente da ABMM-Nacional em 2010.