Consumo em 2015: compartilhar é preciso, viver também é preciso
Como será o ano de 2015? Aparentemente conceitos como economia compartilhada, sustentabilidade e social business mudaram de vez os conceitos. E este pode ser o ano em que esses novos paradigmas serão oficialmente estabelecidos
O consumo em 2015 está cada vez mais sendo impulsionado pelo lado emocional: os consumidores estão fazendo escolhas definidas pelo seu impacto positivo sobre o mundo e para a comunidade por meio de consumo ligado a causas, economia compartilhada ou a atitude “podemos fazer” que os millennials têm. Shopping centers estão se reinventando como centros comunitários, deixaram de ser a antítese comercial da socialização. A saúde, que pode ser acompanhada digitalmente, é muitas vezes comparada com o progresso de outros segmentos significativos e crescentes. “Estrelas” virtuais são cada vez mais atraentes e com maior apelo para milhões através de suas histórias e a empatia que geram. O individualismo, apesar disso, ainda prevalece no desejo cada vez maior do consumidor de salvaguardar sua privacidade, mesmo que esse seja um tópico compartilhado e debatido. Os consumidores também passaram a preferir mais comodidade, algo pelo qual estão cada vez mais dispostos a pagar. As marcas atendem a essas tendências através de nítidas combinações de compras online, offline e opções locais de compra, nos próprios bairros. E a mistura entre estilos de vida online e offline passa para uma nova fase, cada vez mais unificada.
1. Tempo é dinheiro
Mais consumidores estão dispostos a comprar produtos e serviços que otimizam o uso de seu tempo. A combinação do desejo de estar em forma e falta de tempo livre populariza os mini-workouts em aplicativos de fitness. Além dos aplicativos de click and collect e as diversas facilidades que os dispositivos móveis agregaram à vida de quem luta contra o tempo.
2. Menos é mais
Apesar do aumento significativo de compras online, a compra de comida no “mundo real” parece estar voltando no tempo, com mais compradores que preferem a simplicidade e a comodidade de fazer compras nas proximidades sobre a escolha e mais variedade. Estes clientes estão escolhendo a comprar menos, mas mais frequentemente. Esta é uma preferência do consumidor refletida nos números divulgados no início de agosto de 2014 pela consultoria imobiliária global CBRE, que aponta que megastores estão em declínio, com um planejamento maior de espaços menores.
3. Omnichannel contra o tempo
A ampla adoção de smartphones também significa que os consumidores são capazes de fazer compras a qualquer hora, em qualquer lugar e estão se tornando cada vez mais exigente em termos de conveniência. O apelo das compras online pode ser prejudicado se os consumidores precisarem perder tempo à espera da entrega das compras. Uma tendência é que as marcas sejam mais criativas no atendimento das necessidades de conveniência do consumidor.
4. Cultura 24/7
Outro tipo de conveniência está atendendo consumidores que precisam de horários pouco convencionais de atendimento. Muitas pessoas no setor de call center prosperam na Índia, Filipinas e em outras regiões da Ásia e do Pacífico respondendo chamadas internacionais para manter serviços funcionando por 24 horas. De acordo com a cadeia de lojas de departamento John Lewis, do Reino Unido, em um relatório divulgado no outono de 2014, a cultura de 24 horas da Grã-Bretanha criou uma nova raça de “inshopniacs”, com um aumento de 31% de clientes durante a noite. Mais pais mantidos acordados por um bebê chorando, gamers de fim de noite e trabalhadores noturnos estão comprando online depois de escurecer.
5. Serviços para quem está preso no trânsito ou aeroporto
As marcas estão intensificando sua tentativa de atrair os milhões de consumidores “presos” no trânsito. Mapeamentos digital interativos, por exemplo, fazem um retrato das opções de varejo, entretenimento e refeições com marcas que oferecem promoções em tempo real de nas proximidades de quem está parado. Em Heathrow, Londres, todos os 70 restaurantes oferecem agora refeições instantâneas para consumir nos carros. Os passageiros estão desfrutando de mais mimos e possibilidades de compras nesse contexto, o que reduz o estresse da viagem e preenche o “tempo morto”. Embora as cadeias de spa em aeroportos não sejam novas, o interesse do consumidor nesse tipo de tratamento express, bem como serviços de manicure, está se intensificando. No verão de 2014, o Aeroporto Internacional de Filadélfia tornou-se o primeiro no EUA para oferecer aos passageiros o uso gratuito de 30 bicicletas ergométricas de baixo impacto no terminal.
6. Tudo verde
Marcas de moda “Vegan” que se orgulham de projetos sem animais estão sendo destacadas pela mídia por seu estilo. Uma matéria escrita por Amy de Klerk do Telegraph, intitulada “As melhores marcas de moda vegan” louva novas marcas como Wilby pela sua eco-sensibilidade e valorização do bem estar. “Brasileiros estão cada vez mais interessados em projetos sociais e movimentos de inspiração, especialmente aquelesrealizados por meio de crowdfunding, que lhes permitem que estão comprometidos com as questões sociais”, explica Carolina Câmara, designer brasileira, do Rio de Janeiro. Há sempre espaço para uma declaração artística.
7. Mulheres no poder
Ativistas engajados em pressionar os maiores tabus do mundo voltam a ser tendência. A camiseta “This is what a feminist looks like” (Assim é uma feminista, em tradução livre) é um exemplo disso, apesar da posterior controvérsia de trabalho semi-escravo. Outra ação que fez barulho foi a “Submit the news you would like to see” (compartilhe a notícia que você gostaria de ler) da Benetton, em apoio à ONU Mulheres. Durante um protesto em relação à coleção Primavera/Verão 2015 da Chanel em Paris, , uma “multidão” de supermodelos carregando cartazes que mostravam as mais recentes criações da Chanel contou com mensagens assumidamente feminista. Uma forma diferente de expressão foi o mais recente Islamic Fashion Festival, em Kuala Lumpur, Malásia, em passarelas foram destacas suas cores ricas. Apresentando moda feminina islâmica como uma parte do cotidiano cultural de consumo contemporâneo, a ação pode ser vista como uma maneira de reformular os estereótipos. Esta é a opinião de Reina Lewis, professora de Estudos Culturais no London College of Fashion, cujo livro “Moda Muçulmana: Cultura de Estilo Contemporâneo”, será publicado em 2015. Esse empoderamento também pode ser resultado de experiências reais de consumo e uma forma de mostrar a realidade “nua e crua”. O Tumblr “It’s Like They Know Us” (É como se eles nos conhecessem) de Sara Given, uma mãe estressada de uma criança pequena, satiriza anúncios que retratam momentos em família absurdamente perfeitos.
8. Design por uma vida melhor
Julian Assange, o controverso fundador do WikiLeaks, lançou uma linha de camisetas para financiar sua campanha em prol da liberdade de expressão. Enquanto uma fatia grande da cultura de consumo é construída em cima de celebridades, adicionar valores morais e políticos adiciona complexidade a isso. Um dos pontos mais interessantes dessa aplicação e que aponta como o design pode revolucionar vidas é a D.school, na Universidade de Stanford, em que projetos com aplicações práticas começam com o objetivo de melhorar a vida das pessoas. Um de seus cursos mais populares é o de “Design for Extreme Affordability” (Design para acessibilidade extrema). Esses alunos tem salvado vidas por meio de suas invenções, como uma espécie de bolsa de baixo custo que previne hipotermia em recém nascidos e é mais barata que as tradicionais incubadoras. O design como forma de impacto social está em voga, um exemplo disso é o Chineasy, um método simplificado de ensino de mandarim via flashcards em design gráfico. Paola Antonelli, Curadora Sênior do departamento de Arquitetura e Design do Museu de Arte Moderna de Nova Iorque, o MoMA, diz: “Odesign está conectado ao presente e quando pessoas e culturas estão mudando, o design ajuda essa mudança a acontecer”.
9. O influenciador é o consumidor comum
Milhões de influenciadores em 2015 são pessoas como você ou eu. Consumidores comuns que criam empatia e ficam quase famosos. Pessoas “normais” já conseguem bradar aos quatro ventos e gabar-se de seus sonhos de consumo pelo megafone virtual. Classificações online de produtos e marcas feitas por quem compra na internet tornaram-se reais influenciadores de compras e consumidores estão ativamente envolvidos na criação de novos produtos e novos desenvolvimentos das marcas. Enquanto as redes sociais, como Facebook, Flickr, Instagram e YouTube posicionam-se para mostrar os universos pessoais, outras como o Pinterest pavimentam o caminho para curadores, uma nova geração de pessoas influentes que atuam como “seletores” de produtos e serviços. Eles estão identificando os gostos dos consumidores e preferências de compra, atraindo comunidades de interesses e enriquecendo o comércio eletrônico, a caminho de serem quase “vitrines virtuais”. Sites como FoodGawker.com subiram graças aos fãs que fazem o upload de fotos e receitas, em que marcas líderes como a Nestlé freqüentemente participam.
10. Compartilhar é preciso, viver não é preciso
Os consumidores querem mais conexões tanto por meio de oportunidades de colaboração e comércio, mas ao mesmo tempo esperam um serviço on-demand. A economia compartilhada está prosperando, embora cada vez mais mainstream, o próprio diferencial por trás da cultura de consumo colaborativo merece ser ressaltada. Em declarações ao New York Times em agosto de 2014 sobre o seu impacto na sociedade norte-americana, Juliet Schor, professor de sociologia da Boston College, comentou: “É muito paradoxal à antiga cultura americana individualista, onde as pessoas aspirarm uma quantidade crescente de privacidade, condomínios fechados, possuir o seu”. Esta perspectiva de comunidade deu origem própria para uma infinidade de esforços, desde jardinagem comunitária até espaços de trabalho partilhados e trocas, passando pelos fenômenos de negócios Uber e Airbnb, em que os próprios clientes são os provedores de serviços. Online, os consumidores estão sempre compartilhando ou republicando notícias ou conteúdo que acham interessantes de blogs, marcas ou varejistas. O consumidor pós-recessão é geralmente um gastador mais cauteloso. O que pode ser mais seguro do que aprender sobre a experiência de consumo de compra para usar o serviço de pós-venda ou a falta dele através de alguém que já comprou o produto?
Escrito por Paula Furlan
Fonte:www.consumidormoderno.uol.com.br