O laboratório de maluquices do Google
Projetos altamente improváveis e com pouca chance de sair do papel são bem-vindos no Google X, o centro de inovações semissecreto do gigante da internet
CASA Sede do Google, na Califórnia, base para inusitadas invenções
Poucas empresas no mundo são capazes de destacar um time de centenas de pessoas apenas para ter ideias malucas. O Google é uma delas. O gigante da internet, que em 2013 faturou US$ 55,5 bilhões (e lucrou quase US$ 13 bilhões), tem 250 funcionários – entre cientistas, artistas, engenheiros e até ganhadores de prêmios Oscar – que trabalham exclusivamente em projetos que a maioria das companhias descartaria por total falta de cabimento. No Google X, o laboratório fantástico que cuida apenas dessas “maluquices”, na Califórnia, a ordem é abraçar com gosto a possibilidade de fracasso para, quem sabe, um dia, criar algo realmente revolucionário.
Ninguém, além dos executivos do Google, sabe ao certo quantos e quais são os projetos desenvolvidos no semissecreto X. É fato, no entanto, que inovações como o Glass, óculos de realidade aumentada com funções de smartphone, e o Google Driverless Car, um carro que se dirige sozinho, tiveram sua gênese lá. Esses produtos parecem até tradicionais diante de outras ideias muito menos ortodoxas que já foram seriamente estudadas no escritório de inovação, como um elevador espacial e um skate voador (confira quadro). Como é de se esperar, muitos dos projetos não vão para frente, mas isso não chega a ser um problema.
“Um arranjo que cause fricção entre intelectos de várias áreas é a melhor esperança para criar produtos que podem resolver os problemas mais difíceis do mundo”, afirmou Astro Teller, diretor do Google X, à revista americana “Fast Company”. O próprio Teller é um exemplo dessa diversidade intelectual. Ele tem bacharelado e mestrado em computação pela Universidade Stanford, uma das mais prestigiadas do mundo, é doutor em inteligência artificial, escreveu um romance que foi traduzido até para o holandês, criou uma empresa que fabrica gadgets vestíveis e trabalhou no mercado financeiro. Um gênio, em resumo. Sua definição de inteligência artificial – “a ciência de como fazer as máquinas fazerem aquilo que elas fazem em filmes” – é um bom exemplo de sua abordagem à frente do Google X. A realidade, para ele, deveria ser um pouco mais como a ficção, mas sempre para o bem.
COMPREENSIVO Astro Teller, diretor do Google X, costuma abraçar funcionários que admitem erros
Apesar de toda a utopia tecnológica, o desafio dos funcionários do Google X é criar produtos que resolvam problemas da vida real e beneficiem o maior número de pessoas – sempre de forma radical e revolucionária. Além disso, esses produtos precisam ser viáveis com base na tecnologia e nos materiais disponíveis hoje. Na maioria dos casos, é nesse ponto que as ideias fracassam. Todas as propostas passam pelo “time de avaliação rápida”, que tem como missão fazer de tudo para rejeitar os projetos antes mesmo que eles saiam do campo imaginário. “Por que adiar o fracasso até amanhã ou semana que vem se você pode fracassar agora mesmo?”, disse Richard DeVaul, chefe da equipe, à “Fast Company”. Para os gênios que trabalham no Google X, nem sempre é fácil admitir a derrota. Mas, quando eles o fazem, costumam ganhar abraços do chefe, Astro Teller. A verdade é que boa parte da filosofia por trás do Google X está em aceitar que aquilo que parece um fracasso pode levar a outras ideias geniais e viáveis. Como exemplo disso, os diretores do laboratório citam estudos conduzidos dentro da empresa que concluíram que o teletransporte violaria diversas leis da física. Nesse processo, entretanto, os pesquisadores tiveram outras ideias (ainda secretas) que podem revolucionar a maneira como o Google codifica dados, melhorando significativamente a segurança. “Esses problemas são como escadas para outras coisas”, diz DeVaul. O que mais pode sair do Google X? Lentes de contato que monitoram o nível de açúcar no sangue e um novo meio de transporte que use apenas energia limpa podem não estar muito longe da realidade. Fonte: http://istoe.com.br