Prevenção corta custo de planos com internação
Todos os meses, os oito núcleos de medicina preventiva da operadora Hapvida, concentrados no Nordeste, recebem 3.500 idosos em busca de atividades de fisioterapia e atendimento de geriatras, psicólogos e nutricionistas.
A rotina repete-se nos centros de atendimento da NotreDame Intermédica espalhados por São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais.
Os programas de prevenção e as ações para o diagnóstico precoce são as principais ferramentas dos planos de saúde para mitigar o aumento de custos com o atendimento ao idoso. Com o envelhecimento da população, cresce a participação de segurados com 60 anos ou mais na carteira total (veja quadro).
Por ter a saúde mais frágil, esse público tende a recorrer mais a internações, exames e atendimentos de emergência. E pressionam os custos das operadoras.
Dados do sistema público de saúde dão a dimensão do problema. Em 2010, quando houve o último Censo, os idosos eram cerca de 11% da população. Mas consumiam 30% dos gastos com serviços hospitalares –não há dados para a saúde suplementar.
“Estudos mostram que, em mais de 70% dos casos, conseguiríamos evitar a hospitalização com técnicas simples de cuidado com o idoso enquanto ele está no baixo risco”, diz Martha de Oliveira, diretora-presidente da ANS.
O gasto médio com internação quase dobrou entre 2007 e 2013 (último dado disponível), enquanto a inflação ficou em 41%. Para as operadoras, deixar os idosos fora dos hospitais, que também se queixam da alta de custos, é central para a sobrevivência.
Em geral, os programas de prevenção envolvem equipes multidisciplinares e as atividades são gratuitas. Os idosos recebem convites para participar a partir de cartas ou contato telefônico. Muitas vezes a abordagem é feita por meio de familiares para aumentar as chances de adesão.
“Tem de aculturar a população. O programa depende crucialmente da adesão. É uma experiência ainda em curso”, diz Marcio Coriolano, presidente da Bradesco Saúde, a maior do país.
Na operadora Amil, a vice-líder do setor, 17% dos cerca de 4 milhões de segurados já são idosos. Na carteira de planos individuais, em dois anos, a proporção saltou de 12,5% para 17,5%.
Com isso, a empresa, que já possui dois programas voltados ao atendimento de clientes com idade avançada, dará início a um projeto-piloto de médico de família. “O objetivo é proporcionar um atendimento mais próximo, aumentando o engajamento”, diz Hans Dohmann, diretor de gestão de saúde da Amil.
RESULTADOS
O investimento costuma compensar. A NotreDame Intermédica afirma que, com os programas de prevenção, conseguiu reduzir em 42% o número de internações de idosos e em 60% o número de fraturas no fêmur, uma das principais causas de hospitalização e morte na população de mais idade, desde 2005.
“Um segurado acima de 60 anos custa três vezes mais do que um na faixa de 20 a 40 anos. Nossa prioridade agora é fazer prevenção desde os 20 anos”, diz Irlau Machado Filho, presidente da NotreDame Intermédica, que tem 1,4 milhão de beneficiários.
Para a ANS, é preciso garantir também o diagnóstico célere. A agência pretende colocar em operação, no prazo de um a dois anos, um sistema nacional que permita o registro do histórico de atendimento dos segurados.
A HapVida já mantém um sistema de prontuário eletrônico. Nas 209 unidades próprias da operadora, a terceira maior do país, consultas e exame são registrados no sistema, facilitando futuros atendimentos. Segundo a operadora, os programas de prevenção e os sistemas para seleção de pacientes e controle de histórico permitiram estabilizar o gasto com idosos –ele é 185% superior ao dos beneficiários de até 58 anos.
Em mais de 70% dos casos, conseguiríamos evitar a hospitalização com técnicas simples de cuidado com o idoso
MARTHA DE OLIVEIRA, diretora-presidente da ANS
11,9%
foi o percentual de idosos em 2015
17%
foi o crescimento da população brasileira entre 2000 e 2015
64%
foi o aumento no número de beneficiários de planos de saúde no período
81%
foi a expansão da população de idosos com planos de saúde
Fonte: Folha de S. Paulo