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Documentário retrata idosos que desafiam o senso comum

“Envelhescência”, primeiro documentário do jovem gaúcho Gabriel Martinez, parece ter sido construído como resposta cinematográfica à definição da terceira idade feita com rigor e concisão pelo arquiteto Oscar Niemeyer (1907-2012): “A velhice é uma merda”.
O ponto de partida do cineasta é o oposto: “Sempre admirei as pessoas que encaram a velhice de maneira positiva”, diz Martinez à Folha.
Ele conta que a ideia para o documentário surgiu há três anos, quando trabalhava na área de vídeos comerciais e propaganda institucional.
“Eu estava com 34 anos e passava pela minha cabeça que estava velho para começar a fazer documentários, que deveria ter começado com 20, 24. A questão me instigava: O que é ser velho?, Até que ponto a velhice é ou não é uma interpretação errônea da nossa percepção?, Quando, de fato, estamos velhos para começar algo novo?”
Ele foi buscar na vida respostas a essas questões. Pesquisando na internet, encontrou cinco dos seis personagens que apresenta no filme –o sexto foi indicação de uma amiga.
São homens e mulheres que descobriram uma nova vida depois da aposentadoria, após a morte do companheiro ou quando perceberam que já não eram bons o suficiente para o que faziam até então. Há também os que continuam suas carreiras e práticas independentemente do passar dos anos.
Todos com mais de 70 anos –alguns com mais de 80–, fazem coisas que o senso comum ou o preconceito consideram inadequadas, incompatíveis, pouco usuais para essa provecta idade.
Eles são velhos mesmo, já passaram da “envelhescência”, termo cunhado em 1996 pelo sociólogo e psicanalista por Manoel Berlinck para descrever a transição da vida adulta para a velhice.
AS HISTÓRIAS
O maître Oswaldo Silveira, 84, que começou a correr com 59 anos e hoje corre maratonas, o professor de artes marciais Ono Sansei, 89, que continuou a dar aulas mesmo depois de uma distensão na perna, a surfista Ednea Correa, 67, que começou a surfar com 57 anos, e o paraquedista Luiz Schirmer, 76, mostram que o corpo pode ser treinado e adaptado a atividades físicas extremamente exigentes, mesmo quando a força já não é a mesma da juventude.
Talvez mais inusitada seja a experiência da dona de casa Judith Caggiano que, depois da morte do marido com quem ficara casada por mais de 50 anos, rompe com a repressão e entrega o corpo a dezenas de tatuagens e piercings –três deles em locais proibidões. Ela fez a primeira quando tinha 73 anos e hoje tem mais de 60 tatuagens.
Ou a do pacato farmacêutico Edson Gambuggi que só aos 76 anos foi em busca de seu sonho de juventude e ingressou na faculdade de medicina –completou o curso com 82 anos.
Apesar de reflexões trazidas à cena por depoimentos de um geriatra, de um antropólogo e de um filósofo, o tom geral do filme é de entusiasmo com as realizações de seus personagens –em alguns momentos, parece só faltar a torcida a gritar: “Sí, se puede!” ou “Yes, we can!”
A música ambiente acentua esse aspecto edulcorado, conquistador, fazendo às vezes lembrar trechos de comerciais –o que talvez se explique pela trajetória do diretor.
Isso, no entanto, não diminui o fato de que as experiências contadas são muito bacanas, inspiradoras, emocionantes. Ou, como resume Martinez: “Para mim, a velhice não pode ser interpretada como a melhor idade. Mas a nossa vida, após os 60, 70, 80 anos, é aberta para inúmeras possibilidades”.
Para quem perder as sessões no CCBB de São Paulo, o documentário vai estar disponível na Net Now em agosto e também será exibido pelo Canal Brasil.
envelhescência
SERVIÇO Estreia no Centro Cultural Banco do Brasil de São Paulo no dia 17/06 às 19h. As outras exibições serão nos dias 18/06 e 19/06 (às 13h e às 15h); 20/06 e 21/06 (às 13h) e 22/06 (às 13h e às 15h). Mais informações no site www.envelhescencia.com.br
 
Fonte: Folha de S. Paulo

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