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Os desafios do BIG DATA para o setor de Saúde no Brasil

Recentemente, o pensador e consultor Thomas Davenport, ministrou uma palestra no HSM Expomanagement 2014, abordando a utilização do BIG DATA para melhorar os resultados financeiros e operacionais na área de saúde.
O Blog da You Care considera o tema um dois mais importantes para o estabelecimento de relações de valor entre os stakeholders do setor e, por esse motivo, entrevistamos Roberto Gois, MBA e especialista Tecnologia da Informação e desenvolvimento de Novos Negócios, atualmente diretor da CG2, para esclarecer como o BIG DATA pode ajudar as empresas brasileiras de saúde no gerenciamento assertivo dos riquíssimos dados gerados pelo setor.

Foto Roberto Góis

Roberto Góis é graduado em Ciências da Computação pela Universidade Paulista (São Paulo). Especialista em Gestão de Projetos pela Fundação Vanzolini e com MBA em Finanças pelo Insper | Instituto de Ensino e Pesquisa em São Paulo. Atuando no mercado desde 1996 na área de TI, acumulou experiência no ramo financeiro, serviços, laboratorial e farmacêutico. Atualmente é sócio e responsável por TI do laboratório central GC-2 Gestão do Conhecimento Científico.

1. Quais são as principais companhias estrangeiras que estão utilizando o BIG DATA na saúde e como isso está auxiliando-as a obterem vantagens competitivas?
RG: Como quase todas as novas tendências ou tecnologias, o BIG DATA foi demasiadamente experimentado nas universidades americanas, ou seja, após o uso na academia é que o conceito do BIG DATA se difundiu no mercado e efetivamente começou a reverberar no dia a dia dos profissionais de TI, marketing, novos negócios. Dessa forma empresas colossais no que diz respeito à gestão de dados, tais como Google, Facebook, Mastercard, Visa começaram a pensar no uso efetivo do conceito de BIG DATA para transformar seus respectivos negócios.
2. E no Brasil, você conhece alguma empresa da área que utilize o BIG DATA?
RG: No Brasil ainda temos o “receio” e o medo do “desconhecido”, mas algumas empresas do setor de saúde, finanças, seguros, já começam a utilizar o conceito do BIG DATA, primordialmente para testar hipóteses e tentar gerar a partir disso, novas fontes de renda ou forma de sanar gastos desnecessários.
3. Quais são as principais barreiras para a utilização do BIG DATA no setor da saúde?
RG: A plataforma na área de saúde no Brasil é complexa, pois envolve fonte pagadora, prestadores, pacientes, associações, etc. Acredito que a barreira na verdade não esteja em utilizar ou não o conceito do BIG DATA e sim comunicar de forma clara os benefícios que isso trará. Eu costumo dizer que temos que desmistificar o BIG DATA, que nada mais é que: Volume+Variedade+Veracidade+Velocidade, ou seja, volume alto de dados, com uma variedade também alta, dados de certa forma confiáveis e o acesso a tudo isso de forma rápida e eficaz, essa é, na minha opinião, a tradução plena do conceito BIG DATA. A partir do momento que os envolvidos nas decisões do setor de saúde, por exemplo, souberem que isso pode trazer inúmeros benefícios as suas companhias e clientes, certamente a aplicação se dará naturalmente.
4. Como as empresas que são fontes geradoras de dados, podem compartilhar as informações de BIG DATA com os demais stakeholders do setor?
RG: Vejo que isso é um grande problema, pois envolve confidencialidade de dados entre outras series de questões relacionadas com a confidencialidade. No entanto, percebo que muitas empresas que embarcam seus serviços umas nas outras poderiam ter acordos muito diligentes de confidencialidade para possibilitar a troca desses dados. Por exemplo, uma grande seguradora com todos os dados pregressos de seus segurados, poderia muito bem transformar esses dados em informações para redes de farmácias ou redes de hospitais e clinicas para os segurados terem benefícios de descontos. Isso para me ater apenas a um exemplo muito simples. No entanto, podemos chegar ao ponto de prever através de comportamento financeiro por exemplo se um cliente X pode ter mais ou menos risco de pagar um financiamento imobiliário do que o cliente Y, dessa forma gerando benefícios efetivos para o cliente que tem a menor probabilidade de inadimplência. Os bancos atualmente já fazem essa análise de comportamento de crédito, mas por enquanto suponho que não estendam um beneficio adicional ao bom pagador. Tudo isso perpassa o BIG DATA.
5. O setor farmacêutico foi citado positivamente por Thomas Davenport, em sua palestra, como sendo um dos que mais troca informações de BIG DATA na comprovação de estudos de novas drogas. Como o setor de Saúde pode aprender com esse exemplo?
RG: O mercado americano está muito maduro em ambos os aspectos, ou seja, BIG DATA e pesquisa clínica com fármacos. O FDA, por exemplo, normatiza através da CFR2 Chapter 11, todas as particularidades em relação à segurança, confidencialidade, rastreabilidade entre outros, no que diz respeito a troca de dados em uma pesquisa clínica. Dessa forma, as grandes indústrias farmacêuticas conseguem tratar dados de forma mais ágil. Por exemplo, um laboratório pode de forma rápida e segura trocar informações acerca dos resultados dos exames com os centros de pesquisas participantes. Os dados gerados em um protocolo clínico ao final do estudo, são mais confiáveis, pois no decorrer da pesquisa vários erros foram mitigados devido a regra estabelecida pelo FDA , por exemplo: erro em transcrição de dados de papel para sistema, erro em identificação de tubos manualmente, entre outros. Acredito que o setor de saúde tem tudo para aprender com esses exemplos, ou seja, não basta ter sistemas bons e formas de utilizar o conceito do BIG DATA. Deve haver uma devoção aos processos, os quais quanto mais claros e objetivos forem, mais fáceis de serem transpostos para sistemas e consequentemente se beneficiarem do BIG DATA.
6. Foram citados alguns hospitais americanos de primeira linha, que, mesmo pertencendo à mesma sociedade de classe, não trocam informações entre si. Trazendo esse fato para a realidade brasileira, cite algumas oportunidades de análise de BIG DATA que estão sendo desperdiçadas no nosso país.
RG: Como disse anteriormente, essa é uma questão muito delicada, justamente em função de ninguém saber efetivamente responder a seguinte questão: “O dado é de quem? Do hospital? Da associação? Do Paciente?”. Obviamente sabemos que a informação em si pertence ao paciente, mas essas informações podem ou não serem trafegadas e utilizadas como parte de um mecanismo que aglutinará milhões de outras informações de outros pacientes? Acredito que isso seja o ponto chave para seguirmos adiante e nos desprendermos dos aspectos burocráticos. Claro que deve ser tratado e algo tem que ser chancelado como conduta padrão para que não haja desvios. Vejo isso nitidamente no Brasil, em diversos setores, mais principalmente no setor da saúde.
7. Segundo Davenport, o processo analítico de BIG DATA na Saúde resulta em uma ampla “fotografia” sobre PREVISÕES e PRESCRIÇÕES, que podem ser utilizadas por todos participantes, tanto para benefício próprio ou para estudos e crescimento do setor. Desta forma, como você enxerga o desafio do compartilhamento do BIG DATA entre os stakeholders?
RG: Sem duvida nenhuma corroboro com essa afirmação! Estamos a cada dia mais ávidos por informações, mas estamos ainda muito longe de extrair dessas informações o conhecimento que elas podem trazer. A partir do momento que governo, instituições privadas, instituições publicas enxergarem isso e convergirem ações para possibilitar a efetiva aplicação do BIG DATA em seus respectivos dados, verão os benefícios que trarão como previsões e prescrições como afirmou Davenport e muitas outras que não sabemos, mas que a análise dos dados mostrará. Por exemplo, tive uma experiência recente com um amigo do setor chamado Dan Reznik da Upper West Soluções, especialista em BIG DATA e oriundo da Universidade de Berkeley, onde nos questionamos se analisássemos retrospectivamente resultados de exames laboratoriais de milhões de pacientes e milhões de resultados não poderíamos traçar efetivamente um comportamento de resultado diferente do que o estabelecido como valores de referência para uma determinada idade? Portanto situações como essas só serão respondidas a partir da análise dos dados.
8. Na sua opinião, o que o governo, especificamente a ANS (Agencia Nacional de Saúde) pode melhorar na Saúde brasileira ao utilizar o BIG DATA, proveniente do atendimento de aproximadamente 50 milhões de pacientes da Saúde Suplementar?
RG: Creio que o governo brasileiro precisa antes de qualquer coisa tratar a interoperabilidade de sistemas, pois nos dias atuais, um paciente atendido no Rio de Janeiro em um hospital publico se for atendido em um hospital publico em São Paulo terá duas identificações distintas para os sistemas, justamente por não haver interoperabilidade na maioria dos casos. Vencida essa etapa, acredito que haja uma imensidão de benefícios, até mesmo esse caso da duplicação dos registros poderia ser mitigada através do conceito BIG DATA.
Uma das questões que acredito que teria grande valia utilizando o BIG DATA seria estabelecer com critérios mais claros a meritocracia dos profissionais e utilização de insumos na prestação de serviços nos hospitais e unidades de atenção à saúde. Ambos geram os maiores gastos ao governo e poderiam ser melhor geridos com coleta e análise de dados através do conceito BIG DATA.
 
Os desafios do BIG DATA para o setor de Saúde no Brasil

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